26.8.25

Adeus

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras e não encontro
nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um
ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.

Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes
verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.

Mas isso era no tempo dos segredos,
no tempo em que o teu corpo era um
aquário,
no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E, no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.

Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
Não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.

Eugénio de Andrade

26.8.24


x nao tem andado por aqui. têm sido tempos de uma distância quase estranha. de tudo. mas também têm sido tempos de decisões, de planos, de esperança e de risos. e um pouco por causa disso tudo, x nem contou em em março cumpriu um dos seus maiores sonhos e esteve várias horas rodeada de colossos de cor e emoção, embrulhados em sons do Max Richter. e o espaço da Foundation Louis Vuitton passou a ser um dos sítios preferidos de x, logo a seguir à Tate Modern. pelo caminho x ainda descobriu que Paris lhe está no sangue e que um dia quer viver em Monmartre… ou no Le Marais. 

25.8.24


x nao foi, nem vai, a nenhum festival este ano. mas vai ver Gogo Penguin ao CCB no dia 26 de Novembro, e quase quase logo a seguir voará para Estocolmo onde pela primeira vez vai ver Sigur Rós no frio.

28.5.24

há um ano, x disse "não". 

há uma semana, x repetiu: "não". 

entre razões várias, porque "não" é preciso dizer de vez em quando, sobretudo a pessoas que não estão habituadas a ouvi-lo.

mas esse "não" pôs x em rota de colisão com quase tudo. 

x não sabe o que vai resultar daqui, mas sabe que quando diz "não" é muito díficil - impossível diria mesmo - voltar atrás.

como é que x está no meio disto tudo?

bem.

1.5.24


 sobre dizer adeus. e sobre ter só sombras a acompanhar no caminho.

3.4.24


x recebeu uma mensagem: "vamos?"

x respondeu: "vamos."

vemo-nos em Estocolmo!


 

19.3.24

 


este blog nasceu algures em março de 2007. 

em março de 2024 está pronto para acabar. 

vai acabar assim: com x inteira, descalça e livre... no meio de uma chuva de confettis.


8.1.24


- what do you see?

- red.

31.12.23

a vida de x tem sempre uns laivos de disparate. de nonsense. de imprevisto. e de impulso, mas agora o universo está a ser particularmente impiedoso, imprudente, e desconcertante. e x confessa que nao sabe muito bem o que fazer com o reboliço que agora tem por dentro. nem sabe o que fazer com a memórias que insistem em voltar so porque sabem que o seu lugar está a ser ocupado por coisas novas. o que x sabe é que o amanha é uma página em branco.

x nao sabe como sera o ano que esta a chegar. mas sabe que há decisões que tem de ser tomadas. e palavras que tem de ser ditas. e passos que tem de ser dados. x sabe que chegou a hora. e x sabe também que tem medo. um medo novo. mas que resulta de coisas que não são de hoje. um medo alicerçado na memória do corpo estilhaçado em mil pedaços. 

15.12.23


aconteceu muita coisa em 2023. 

mas 2023 foi, sobretudo, um ano de constatações, de cortes radicais, de limpezas e de pessoas e coisas novas a germinar. 

2023 foi, também o ano, em que x voltou à vida. 

foi o ano em que x disse adeus. em que x viu que há sítios que já não nos chegam. e pessoas que já não são. 

2023 foi o ano em que x voltou a sentir. e a querer. tanta coisa. 

mas, apesar de tudo o que de bom e mau aconteceu, 2023 será sempre o ano em que x viu o concerto mais bonito do mundo num dos sítios mais bonitos do mundo. 

e foi, também, o ano em que x perguntou "vamos?" e as pessoas que mais importam a x responderam "vamos!". 

2023 foi o ano em que x voltou a sentir-se acompanhada, ainda que as companhias de x sejam muito, muito, muito restritas.

4.12.23

x já tem bilhetes, mas ainda nem está bem em si...

31.10.23

x sabia que estes meses iam ser de mudança. 

o que x não sabia era o que é que ia mudar. 

agora x sabe.  

x fechou ainda mais o caminho até si, a quem nada de novo lhe traz.

e não resta nada do que foi. 

19.10.23

19 de outubro. x não fuma desde o dia 28 de agosto. 52 dias, portanto. x não sabe se deixou de fumar para sempre. mas estes 52 dias foram cheios de surpresas. de absoluta calma. e de completo abandono de hábitos e padrões de pensamento antes rotineiros.  

x não fuma há 52 dias. e agora que parece que o não fumar se cristalizou, x tem sentido vontade de deixar outros hábitos e mais algumas coisas dispersas que x ainda tem na vida. de mudar tudo o que resta. 

na verdade, x não sabe bem se é vontade de mudança que sente. ou se a mudança já a aconteceu e x só agora está a cair em si.

12.10.23

“I became a painter because I wanted to raise painting to the level of poignancy of music and poetry.”

4.7.23

 


foi assim. x estava ali no meio, a poucos passos do palco. x teve lágrimas a cair durante metade do tempo. lágrimas felizes, contudo.

29.6.23

Sigur Rós - Andrá

x foi. x veio. x ainda não acordou. e depois aparece-lhe isto à frente. que explica bastante bem porque é que x fez não sei quantos mil quilómetros para ver algo que muitos poderão considerar fútil. x foi. e teve um momento que não vai esquecer. nunca. e depois aparece-lhe isto à frente. que diz quase tudo o que x sente quando mergulha neste som. x sabia que não estava sozinha nesse sentir. mas agora há mais quem explique como estes sons nos transformam por dentro. e por fora. 




 

21.6.23

 


Sigur Rós Orchestral Tour @ Odeon of Herodes Atticus 

porque a vida é bonita. e mágica. embora muitas vezes  pareça ser só uma merda.

porque é tempo de festejar o fim. ou o início.

x vai voltar. algures perto da fonte de quase todos os males, com memórias cravadas em pedras mais ou menos gastas. centro da Europa, há demasiadas luas.

x vai dizer adeus, e libertar coisas que teimaram tolher-lhe o ser durante vidas.

chegou a hora.

see you in Athens!



12.6.23



Sigur Rós - Blodberg

voltaram. em grande.

10.6.23



Puscifer - Bullet train to Iowa

a primeira vez que x ouviu isto foi assoberbada por uma desconfortável e dolorosa sensação de despedida. 

mas hoje, ao voltar aqui, o que fica com mais firmeza é o “just enjoy the ride”.
 

 

9.5.23

 x, hoje, disse “não”. foi um “não” que já se anunciava há muito, e com o qual x andou a fazer as pazes mais de um ano. x disse “não”, e deixou quatro pessoas hirtas sem saber bem o que lhe responder. x disse “não” para não dizer “foda-se”. isto deve querer dizer que x já é crescida. x saiu da sala da mesma forma que entrou, de cabeça erguida e absolutamente convencida da sua razão. e deixou para trás quatro pessoas hirtas a fazer contas à vida e certamente a pensar na palavra que x substituiu com um simples “não”.

5.5.23


Mono - Breathe

sobre coisas que fazem x sonhar (talvez) mais do que os demais. coisas que fazem x vaguear algures. talvez demasiadas vezes. e ainda bem.

 

25.4.23


sol e muito silêncio intercalado por algumas gargalhadas. noites inquietas, cheias de tudo, de risos e de lágrimas e das cores todas da aurora boreal. dias de revelações. e de despedidas que se reafirmaram. fantasmas a tentar remexer tudo. sem sucesso. porque a única certeza que ficou foi que todo o mal não se esquece. mesmo que compreendamos as razões. e os deitemos a dormir, em paz. não nos perturbam agora no sítio que sabemos nosso. mas andam a rondar. quase sempre. talvez em desespero. ou talvez não. nunca saberemos ao certo. mas agora também já não importa. abram-se as portas e deixe-se circular o ar novo.

 

10.4.23

apareceu assim, sem contar, em modo de resposta às ânsias de x por algo que a tirasse do chão. e x teve um daqueles momentos de impulso que já há muito não tinha. e, num sopro, o sangue começou a correr mais vivo nas veias. algures em junho, x vai ser mais feliz do que o costume. até lá vai acabar de recuperar as asas que ficaram cansadas pelo caminho.

10.3.23


A Perfect Circle - When The Levee Breaks

sobre coisas bonitas. e simples. mas cheias. coisas bonitas, simples, mas cheias. só isso. e isso é tudo.